Paraquedista volta a voar depois de ficar paraplégico
Aos 38 anos, Chris tem um olhar assustado e um cachorro arisco. Não está feliz com o destino, mas já parou de se lamentar.
Chris Colwell dominava os céus como um pássaro. Até mais. Fazia acrobacias que muitos pássaros não fazem.
Rasgava a atmosfera como se caminhasse por uma estrada invisível. Com uma alegria visível, nos olhos e no sorriso. Ele chegou tão alto no esporte que virou professor.
No dia 24 de abril de 2003, a câmera estava no capacete de Chris. O paraquedista que aparece assustado na porta do avião é um iniciante.
Um iniciante pesado, que desce muito rápido e quase sem controle.
Diante da perigosa descida do companheiro, Chris assume a posição mais rápida que existe no paraquedismo.
De cabeça apontada pro solo, desce a mais de duzentos quilômetros por hora pra resgatar o aluno que, de repente, dá uma guinada.
Os dois se chocam. O paraquedista profissional bate com a cabeça no peito do aluno.
As pernas param de responder aos comandos do cérebro. Chris perde também o controle dos dedos e movimenta os braços, desesperadamente numa viagem sem controle em direção à terra.
Ele não consegue abrir o paraquedas principal.
E quando a morte parece algo inevitável, o páraquedas de emergência se abre automaticamente.
O alívo dura poucos segundos. Chris precisaria muito das pernas pra fazer um pouso suave. Com sorte, pousaria na grama.
Mas, nada feito. Ele rola desgovernado pelo asfalto.
Com a voz embargada, seis anos depois, Chris Collwell se culpa.
“A gente deveria fazer seis vôos aquele dia. O plano era ensinar a ele algumas manobras, mas de repente os planos mudaram. Ele começou a voar muito rápido. Eu tentei alcançá-lo, o que foi provavelmente meu erro, porque ele de alguma forma acabou ficando bem embaixo de mim. Num certo ponto, eu comecei a ver um monte de imagens do passado na minha cabeça, exatamente como acontece com pessoas que pensam que vão morrer”, explica Chris.
O pouso no asfalto foi o último da carreira de quem nasceu aventureiro. Foi obrigado a começar uma nova vida com as pernas e os dedos paralisados na cadeira de rodas.
Aos 38, Chris tem um olhar assustado e um cachorro arisco. Não está feliz com o destino, mas já parou de se lamentar.
Dentro de casa, mandou construir um estúdio pra viver uma nova paixão.
O instrumento é simples, mas foi o que deu pra improvisar com plástico e ponta de lápis, para tocar o teclado.
A letra do hip-hop não tem improviso. “É um dia completamente novo; cinco anos se passaram desde que eu bati no asfalto. Eu ainda vôo, todos os dias, vou chegar aos céus? Não sei. Mas até lá eu vou tentar”.
E como diz a letra da música, Chris quer voar novamente. Os amigos chegam no fim da tarde, dispostos a ajudá-lo na missão importante, que não é impossível.
Mas primeiro é preciso preparar o carro. A bagagem. E o aventureiro.
Depois de seis anos, depois de muito tempo sonhando com este momento, Chris está finalmente pronto pra sua primeira aventura desde o acidente. Ele vai acompanhado de três brasileiros: a Juliana, que é paraquedista; o João, também paraquedista; e o Kalei, que é médico e paraquedista. Mas, antes do voo, eles têm 800 quilômetros de estrada pela frente.
“Espero que não precise de nenhum suporte, mas se precisar a gente ta aí pra dar qualquer apoio”, explica Kallei Ferreira, médico e paraquedista.
Juliana e Chris se conheceram há muitos anos durante um vôo.
“Vou voar junto com o Chris. A última vez que a gente voou junto faz bastante tempo já, então eu também to esperando por este momento há muito tempo”, Juliana, instrutora de paraquedismo.
Como o próprio Chris tem dito, ela e João serão os anjos da guarda durante a simulação de um salto, num túnel de vento.
“Acho que só a gente estar aqui já é especial pra todos nos e vai ser um grande desafio, porque nunca ninguém nas condições do Chris voou antes num simulador”, afirma João Tambor, instrutor de paraquedismo.
Chris está pronto. As portas se fecham e a van sai sem pressa.
Saindo de Deland, na Flórida, serão mais de 800 quilômetros até Fayeteville, na Carolina do Norte. Na jornada que atravessa a madrugada, os brasileiros se alternam na direção. E na manhã do dia seguinte, a equipe finalmente chega ao local da aventura.
Chris mostra a mão pra dizer que não está tremendo, nem um pouco nervoso.
Todos se reúnem e Chris explica exatamente o que quer: “Eu fico o dia inteiro assim, sentado… Então eu quero girar… Voar pra cima e pra baixo… Quero ficar solto, sem ninguém me segurando”
Bom, agora capacete, o Chris tá com tudo pronto pra voar pela primeira vez depois de seis anos. É uma tentativa, a gente ainda não sabe o que vai acontecer, mas as expectativas são as melhores possíveis.
Tudo pronto uma operação complicada. Eles têm que trazer o Chris para dentro do túnel que foi desligado neste momento.
O túnel de vento foi ligado.
Os primeiros movimentos. Ele sente as mãos e lentamente vai saindo do chão. Os instrutores também começam lentamente a voar.
Nova tentativa. Ele ainda sendo segurado, protegido pra sentir como é o vento depois de tanto tempo sem praticar.
Obviamente, sem o movimento das pernas. E sem sentir o que acontece nas mãos.
Ele tenta sinalizar p os instrutores qual seria a posição mais confortável para voar sozinho que e o grande objetivo dele aqui.
A comunicação é difícil. O instrutor tenta interpretar e ele pede para ficar de frente, o que é mais difícil.
Ele faz agora pela primeira vez o chamado belly fly, que e o voo de barriga para baixo. O Chris ta voando neste momento sozinho!
O sorriso no rosto de Chris começa a aparecer. Um certo alivio. Uma sensação de conquista - afinal depois de seis anos na cadeira de rodas o Chris finalmente tem a sensação de voar - algo que ele praticamente fez a vida inteira e fez muito bem, como poucos.
Agora sim vento mais forte - mais de 200 quilômetros por hora. Essas manobras são meio arriscadas para situação que a gente está enfrentando. Incrível!
A Juliana chora, enxuga as lágrimas, sorri, é uma emoção enorme porque ela passou os últimos dois anos planejando este momento. Eles voavam juntos antes do acidente do Chris.
Agora o Chris experimenta um voo de cabeça pra baixo, exatamente o que ele fazia no dia do acidente, no momento do acidente. Agora, com toda a segurança, auxiliado por quatro instrutores, ele voa de cabeça pra baixo, como se estivesse no céu.
Quando a aventura termina, a equipe comemora.
A vitória é de todos. Chris ainda não acredita que depois de seis anos numa cadeira de rodas, foi capaz de voar.
No comments:
Post a Comment