Hoje fez 1
ano.
Um ano que
meu pai se foi.
Um ano em que
fui o último da família a estar com ele. Queria ter estado mais, queria ter feito
mais.
Quando isso
aconteceu, a um ano atrás, eu não postei nada, não havia nada o que falar.
Não havia
razão para falar do vazio, aliás de um vazio que até agora não sei explicar.
Nós éramos
próximos. Muito mais próximos do que eu imaginava e infelizmente só descobri a
verdadeira dimensão dessa ligação quando senti a falta que sua presença e amizade
fazem.
Nesse ano
não postei muitas coisas, não senti vontade. Falta um companheiro, falta um
amigo.
Sempre digo
que meus melhores e maiores amigos cabem numa mão. Se esse for o critério, agora
sei que ele era a palma da mão.
Senti
falta, senti culpa, talvez se eu tivesse feito algo eu poderia ter mudado as
coisas. Quem sabe se eu tivesse sido mais presente, estado mais próximo e
tivesse sido tão dedicado a ele quanto ele foi a mim e meu irmão...
Depois de
um ano e todos os "se's", ainda não encontro conforto e talvez jamais
encontre.
Em toda sua
vida meu pai havia nunca havia sido internado. Foram dois dias da sua internação
ao óbito.
Por um
lado, fico feliz por não ter passado anos sofrendo, mas por outro não consigo
entender como isso pôde acontecer com meu super-homem. Uma “simples” pneumonia.
Meu pai era
uma pessoa especial. Uma pessoa com muitas qualidades e defeitos, certamente um
indivíduo de personalidade marcante e autentica.
Acredito
que não era uma unanimidade e que apesar de ser querido por muitos tinha sua
legião de desafeiçoados.
Não sei
dizer se foi um bom amigo, um bom irmão, um bom marido ou companheiro, mas não
acredito que eu poderia ter um melhor pai nesse mundo. Ele foi o melhor pai do
mundo!
Ele era alguém
que sempre se orgulhou de dizer que era meu pai e onde quer que fosse comigo ou
meu irmão fazia questão de dizer que éramos seus filhos. Aliás o fazia sempre
que possível para todos seus conhecidos e muitas vezes desconhecidos dizendo:
"Esse pequenininho aqui é meu filho". Dizia o mesmo sobre mim e meu
irmão, algumas vezes enfatizando que um “pequenininho” era irmão do outro “pequenininho”.
Sempre
presente! Mesmo trabalhando em dois empregos quando éramos muito pequenos,
fazia questão de passar os finais de semanas com toda a família e invariavelmente
todos os 30 dias de férias comigo e meu irmão. Lembro também dos passeios na Belina
conosco e muitas crianças da vizinhança. Mais tarde esteve presente na escola, nos
jogos de Xadrez que me ensinou, acompanhou com orgulho os jogos de basquete e depois
me acompanhando nos bares e mesmo algumas festas com meus amigos.
Foram
muitas histórias que guardo na memória. Quando me mudei para Porto Alegre viajávamos
levando meu carro e fomos parados duas vezes pela polícia, uma por dirigir sem habilitação
enquanto eu estava ao volante e outra porque a dele havia estava vencida e ele
não havia se dado conta. Felizmente, conversando ele nos livrou das duas
multas.
Conversar
era um dos seus passatempos preferidos. Gostava de falar e demonstrar seu
conhecimento sobre qualquer assunto quando tinha a oportunidade. Não gostava
apenas de conversar e sim de tergiversar como sempre gostava de enfatizar. Argumentar,
mudar de opinião e questionar seu próprio argumento na mesma conversa.
Apresentar um assunto, questionar e terminar com uma nova visão até mesmo
contrária à sua visão inicial e o fazia com as palavras rebuscadas ou artifícios
de linguagem diferentes, sempre que possível. Gostava de estender o bate papo. Gostava
de tergiversar!
Ele sempre
me apoiou, independente de qual a situação. Não me recordo de muitos conselhos
sobre o que eu deveria fazer ou não, sempre disse que acreditava em mim e que
diria se algum dia achasse que havia necessidade. Houveram poucas situações. A única
coisa que me prometeu sobre conselhos, é que jamais daria nenhum conselho sobre
minha vida sentimental e até onde me lembro isso nunca aconteceu.
Cuidou de
mim e de meu irmão quando precisamos de curativos, quando precisamos ir a hospitais,
quando precisamos de um ombro ou só para fazer companhia e nunca esteve
cansado, indisposto ou mesmo ocupado. Não pensava duas vezes em desmarcar um
compromisso para estar com seus filhos ou com o resto da família em qualquer
situação. Esteve com meu irmão durante a longa batalha com a leucemia e não
perdia uma consulta independente de nada. Aliás se eu sinto essa falta, não
consigo imaginar como meu irmão que passou anos convivendo diariamente com ele nos
seus momentos mais difíceis lida com isso.
Ele estava me
ajudando a lidar com um momento muito difícil, achei que era a maior perda que
tive, mas ele me mostrou o que é uma perda, algo que não havia experimentado
nessa intensidade até então. Não acredito que a lição tenha sido o motivo.
Espero que não.
Pessoa
muito inteligente que entendia tudo, tinha uma cultura acima da média e era capaz
da interpretar informações incompletas e captar os mínimos nuances de uma
conversa. Tinha a mesma velocidade pra reagir e mostrar quando não havia
gostado do que se passava.
Homem da
cidade, amava crianças, adorava cachorros, ele adorava cachorros e adorava
cachorros. Odiava gatos (mas deixava comida na beira da escada) e soltou os
passarinhos da gaiola. Dizia que amava a cidade até ser convidado para ir à
praia, uma fazenda, um sitio, um piquenique ou qualquer motivo para sentir saudades
da cidade.
A cada
linha que escrevo sinto mais saudades desse cara. Sinto cada vez mais falta e
mais orgulho de ter sido seu filho e mais falta por não ter exacerbado minha
admiração e orgulho dele enquanto estava presente.
Apesar de
ser muito alegre, meu pai sempre fazia questão de ser sério nas fotografias,
mas aqueles que conviviam com ele tinham o prazer de sentirem sua risada
espontânea e “gostosa”, como ele gostava de se referir àquelas risadas que dão
prazer de ouvir. Essa foi a última foto que encontrei do meu pai sorrindo no
meu telefone e apesar de não estar no melhor foco, representa um momento de
extrema felicidade onde estávamos ele, meu irmão minha tia Geralda e eu comemorando
o aniversário do meu irmão.
Saudades de
você, Pai; Zé; Zézinho; Ramos.
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