Wednesday, November 11, 2020

Um ano e voce faz falta José Ramos Jr.


Hoje fez 1 ano.

 

Um ano que meu pai se foi.

Um ano em que fui o último da família a estar com ele. Queria ter estado mais, queria ter feito mais.

 

Quando isso aconteceu, a um ano atrás, eu não postei nada, não havia nada o que falar.

Não havia razão para falar do vazio, aliás de um vazio que até agora não sei explicar.

Nós éramos próximos. Muito mais próximos do que eu imaginava e infelizmente só descobri a verdadeira dimensão dessa ligação quando senti a falta que sua presença e amizade fazem.

 

Nesse ano não postei muitas coisas, não senti vontade. Falta um companheiro, falta um amigo.

Sempre digo que meus melhores e maiores amigos cabem numa mão. Se esse for o critério, agora sei que ele era a palma da mão.

Senti falta, senti culpa, talvez se eu tivesse feito algo eu poderia ter mudado as coisas. Quem sabe se eu tivesse sido mais presente, estado mais próximo e tivesse sido tão dedicado a ele quanto ele foi a mim e meu irmão...

Depois de um ano e todos os "se's", ainda não encontro conforto e talvez jamais encontre.

 

Em toda sua vida meu pai havia nunca havia sido internado. Foram dois dias da sua internação ao óbito.

Por um lado, fico feliz por não ter passado anos sofrendo, mas por outro não consigo entender como isso pôde acontecer com meu super-homem. Uma “simples” pneumonia.

 

Meu pai era uma pessoa especial. Uma pessoa com muitas qualidades e defeitos, certamente um indivíduo de personalidade marcante e autentica.

Acredito que não era uma unanimidade e que apesar de ser querido por muitos tinha sua legião de desafeiçoados.

Não sei dizer se foi um bom amigo, um bom irmão, um bom marido ou companheiro, mas não acredito que eu poderia ter um melhor pai nesse mundo. Ele foi o melhor pai do mundo!

Ele era alguém que sempre se orgulhou de dizer que era meu pai e onde quer que fosse comigo ou meu irmão fazia questão de dizer que éramos seus filhos. Aliás o fazia sempre que possível para todos seus conhecidos e muitas vezes desconhecidos dizendo: "Esse pequenininho aqui é meu filho". Dizia o mesmo sobre mim e meu irmão, algumas vezes enfatizando que um “pequenininho” era irmão do outro “pequenininho”.

Sempre presente! Mesmo trabalhando em dois empregos quando éramos muito pequenos, fazia questão de passar os finais de semanas com toda a família e invariavelmente todos os 30 dias de férias comigo e meu irmão. Lembro também dos passeios na Belina conosco e muitas crianças da vizinhança. Mais tarde esteve presente na escola, nos jogos de Xadrez que me ensinou, acompanhou com orgulho os jogos de basquete e depois me acompanhando nos bares e mesmo algumas festas com meus amigos.

Foram muitas histórias que guardo na memória. Quando me mudei para Porto Alegre viajávamos levando meu carro e fomos parados duas vezes pela polícia, uma por dirigir sem habilitação enquanto eu estava ao volante e outra porque a dele havia estava vencida e ele não havia se dado conta. Felizmente, conversando ele nos livrou das duas multas.

Conversar era um dos seus passatempos preferidos. Gostava de falar e demonstrar seu conhecimento sobre qualquer assunto quando tinha a oportunidade. Não gostava apenas de conversar e sim de tergiversar como sempre gostava de enfatizar. Argumentar, mudar de opinião e questionar seu próprio argumento na mesma conversa. Apresentar um assunto, questionar e terminar com uma nova visão até mesmo contrária à sua visão inicial e o fazia com as palavras rebuscadas ou artifícios de linguagem diferentes, sempre que possível. Gostava de estender o bate papo. Gostava de tergiversar!

Ele sempre me apoiou, independente de qual a situação. Não me recordo de muitos conselhos sobre o que eu deveria fazer ou não, sempre disse que acreditava em mim e que diria se algum dia achasse que havia necessidade. Houveram poucas situações. A única coisa que me prometeu sobre conselhos, é que jamais daria nenhum conselho sobre minha vida sentimental e até onde me lembro isso nunca aconteceu.

Cuidou de mim e de meu irmão quando precisamos de curativos, quando precisamos ir a hospitais, quando precisamos de um ombro ou só para fazer companhia e nunca esteve cansado, indisposto ou mesmo ocupado. Não pensava duas vezes em desmarcar um compromisso para estar com seus filhos ou com o resto da família em qualquer situação. Esteve com meu irmão durante a longa batalha com a leucemia e não perdia uma consulta independente de nada. Aliás se eu sinto essa falta, não consigo imaginar como meu irmão que passou anos convivendo diariamente com ele nos seus momentos mais difíceis lida com isso.

Ele estava me ajudando a lidar com um momento muito difícil, achei que era a maior perda que tive, mas ele me mostrou o que é uma perda, algo que não havia experimentado nessa intensidade até então. Não acredito que a lição tenha sido o motivo. Espero que não.

Pessoa muito inteligente que entendia tudo, tinha uma cultura acima da média e era capaz da interpretar informações incompletas e captar os mínimos nuances de uma conversa. Tinha a mesma velocidade pra reagir e mostrar quando não havia gostado do que se passava.

Homem da cidade, amava crianças, adorava cachorros, ele adorava cachorros e adorava cachorros. Odiava gatos (mas deixava comida na beira da escada) e soltou os passarinhos da gaiola. Dizia que amava a cidade até ser convidado para ir à praia, uma fazenda, um sitio, um piquenique ou qualquer motivo para sentir saudades da cidade.

A cada linha que escrevo sinto mais saudades desse cara. Sinto cada vez mais falta e mais orgulho de ter sido seu filho e mais falta por não ter exacerbado minha admiração e orgulho dele enquanto estava presente.

Apesar de ser muito alegre, meu pai sempre fazia questão de ser sério nas fotografias, mas aqueles que conviviam com ele tinham o prazer de sentirem sua risada espontânea e “gostosa”, como ele gostava de se referir àquelas risadas que dão prazer de ouvir. Essa foi a última foto que encontrei do meu pai sorrindo no meu telefone e apesar de não estar no melhor foco, representa um momento de extrema felicidade onde estávamos ele, meu irmão minha tia Geralda e eu comemorando o aniversário do meu irmão.

 

Saudades de você,  Pai; Zé; Zézinho; Ramos.

 


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