Wednesday, November 11, 2020

Um ano e voce faz falta José Ramos Jr.


Hoje fez 1 ano.

 

Um ano que meu pai se foi.

Um ano em que fui o último da família a estar com ele. Queria ter estado mais, queria ter feito mais.

 

Quando isso aconteceu, a um ano atrás, eu não postei nada, não havia nada o que falar.

Não havia razão para falar do vazio, aliás de um vazio que até agora não sei explicar.

Nós éramos próximos. Muito mais próximos do que eu imaginava e infelizmente só descobri a verdadeira dimensão dessa ligação quando senti a falta que sua presença e amizade fazem.

 

Nesse ano não postei muitas coisas, não senti vontade. Falta um companheiro, falta um amigo.

Sempre digo que meus melhores e maiores amigos cabem numa mão. Se esse for o critério, agora sei que ele era a palma da mão.

Senti falta, senti culpa, talvez se eu tivesse feito algo eu poderia ter mudado as coisas. Quem sabe se eu tivesse sido mais presente, estado mais próximo e tivesse sido tão dedicado a ele quanto ele foi a mim e meu irmão...

Depois de um ano e todos os "se's", ainda não encontro conforto e talvez jamais encontre.

 

Em toda sua vida meu pai havia nunca havia sido internado. Foram dois dias da sua internação ao óbito.

Por um lado, fico feliz por não ter passado anos sofrendo, mas por outro não consigo entender como isso pôde acontecer com meu super-homem. Uma “simples” pneumonia.

 

Meu pai era uma pessoa especial. Uma pessoa com muitas qualidades e defeitos, certamente um indivíduo de personalidade marcante e autentica.

Acredito que não era uma unanimidade e que apesar de ser querido por muitos tinha sua legião de desafeiçoados.

Não sei dizer se foi um bom amigo, um bom irmão, um bom marido ou companheiro, mas não acredito que eu poderia ter um melhor pai nesse mundo. Ele foi o melhor pai do mundo!

Ele era alguém que sempre se orgulhou de dizer que era meu pai e onde quer que fosse comigo ou meu irmão fazia questão de dizer que éramos seus filhos. Aliás o fazia sempre que possível para todos seus conhecidos e muitas vezes desconhecidos dizendo: "Esse pequenininho aqui é meu filho". Dizia o mesmo sobre mim e meu irmão, algumas vezes enfatizando que um “pequenininho” era irmão do outro “pequenininho”.

Sempre presente! Mesmo trabalhando em dois empregos quando éramos muito pequenos, fazia questão de passar os finais de semanas com toda a família e invariavelmente todos os 30 dias de férias comigo e meu irmão. Lembro também dos passeios na Belina conosco e muitas crianças da vizinhança. Mais tarde esteve presente na escola, nos jogos de Xadrez que me ensinou, acompanhou com orgulho os jogos de basquete e depois me acompanhando nos bares e mesmo algumas festas com meus amigos.

Foram muitas histórias que guardo na memória. Quando me mudei para Porto Alegre viajávamos levando meu carro e fomos parados duas vezes pela polícia, uma por dirigir sem habilitação enquanto eu estava ao volante e outra porque a dele havia estava vencida e ele não havia se dado conta. Felizmente, conversando ele nos livrou das duas multas.

Conversar era um dos seus passatempos preferidos. Gostava de falar e demonstrar seu conhecimento sobre qualquer assunto quando tinha a oportunidade. Não gostava apenas de conversar e sim de tergiversar como sempre gostava de enfatizar. Argumentar, mudar de opinião e questionar seu próprio argumento na mesma conversa. Apresentar um assunto, questionar e terminar com uma nova visão até mesmo contrária à sua visão inicial e o fazia com as palavras rebuscadas ou artifícios de linguagem diferentes, sempre que possível. Gostava de estender o bate papo. Gostava de tergiversar!

Ele sempre me apoiou, independente de qual a situação. Não me recordo de muitos conselhos sobre o que eu deveria fazer ou não, sempre disse que acreditava em mim e que diria se algum dia achasse que havia necessidade. Houveram poucas situações. A única coisa que me prometeu sobre conselhos, é que jamais daria nenhum conselho sobre minha vida sentimental e até onde me lembro isso nunca aconteceu.

Cuidou de mim e de meu irmão quando precisamos de curativos, quando precisamos ir a hospitais, quando precisamos de um ombro ou só para fazer companhia e nunca esteve cansado, indisposto ou mesmo ocupado. Não pensava duas vezes em desmarcar um compromisso para estar com seus filhos ou com o resto da família em qualquer situação. Esteve com meu irmão durante a longa batalha com a leucemia e não perdia uma consulta independente de nada. Aliás se eu sinto essa falta, não consigo imaginar como meu irmão que passou anos convivendo diariamente com ele nos seus momentos mais difíceis lida com isso.

Ele estava me ajudando a lidar com um momento muito difícil, achei que era a maior perda que tive, mas ele me mostrou o que é uma perda, algo que não havia experimentado nessa intensidade até então. Não acredito que a lição tenha sido o motivo. Espero que não.

Pessoa muito inteligente que entendia tudo, tinha uma cultura acima da média e era capaz da interpretar informações incompletas e captar os mínimos nuances de uma conversa. Tinha a mesma velocidade pra reagir e mostrar quando não havia gostado do que se passava.

Homem da cidade, amava crianças, adorava cachorros, ele adorava cachorros e adorava cachorros. Odiava gatos (mas deixava comida na beira da escada) e soltou os passarinhos da gaiola. Dizia que amava a cidade até ser convidado para ir à praia, uma fazenda, um sitio, um piquenique ou qualquer motivo para sentir saudades da cidade.

A cada linha que escrevo sinto mais saudades desse cara. Sinto cada vez mais falta e mais orgulho de ter sido seu filho e mais falta por não ter exacerbado minha admiração e orgulho dele enquanto estava presente.

Apesar de ser muito alegre, meu pai sempre fazia questão de ser sério nas fotografias, mas aqueles que conviviam com ele tinham o prazer de sentirem sua risada espontânea e “gostosa”, como ele gostava de se referir àquelas risadas que dão prazer de ouvir. Essa foi a última foto que encontrei do meu pai sorrindo no meu telefone e apesar de não estar no melhor foco, representa um momento de extrema felicidade onde estávamos ele, meu irmão minha tia Geralda e eu comemorando o aniversário do meu irmão.

 

Saudades de você,  Pai; Zé; Zézinho; Ramos.

 


Monday, June 9, 2014

A indústria das drogas ilícitas

Enquanto ouvia uma notícia sobre uma apreensão de drogas, comecei a pensar sobre os volumes desse mercado e na verdadeira indrustria necessária para suprir essa produção. Foi pesquisando sobre isso que encontrei esse excelente estudo do Osório Barbosa abaixo:

O tráfico de entorpecentes e as mentiras contadas



Osório Barbosa

Por que quem sempre conta um conto sempre aumenta, diminui ou omite um ponto? A tal luta contra o narcotráfico, sempre necessária, é um desses contos onde, no mínimo, se omite vários pontos. Trabalhei alguns anos como procurador da República na Amazônia (Roraima, Amazonas e Acre), tendo obtido, junto à Polícia Federal, os seguintes dados (1998):

"Plantios de coca: 215.000 hectares.

Tendo-se por base que cada hectare produz aproximadamente 1000 kg de folhas por safra, podendo ocorrer até quatro colheitas anuais (...), estima-se um potencial mínimo de 600.000.000 kg de folhas de coca produzidas anualmente.

Em média, cada 120 kg de folhas de coca produz 1 kg de pasta de coca, havendo desta forma uma produção estimada de 5.000.000 kg de pasta de coca.

Com 2 kg de pasta de coca, alcança-se 1 kg de pasta-base de cocaína (PBC), também conhecida como pasta oxidada ou pasta lavada, o que demonstra uma produção potencial de 2.500.000 kg de PBC.

Com 1.2 kg de Pasta - Base de Cocaína, se obtém 1 kg de cloridrato de cocaína com 90% de teor de pureza em média, o que determina uma produção anual de cerca de 2.000.000 kg de cloridrato de cocaína (90%).

Há que se ter em consideração que os componentes residuais dos produtos químicos utilizados no processo de refino da cocaína, quando lançados nos ambientes aquáticos, causam danos irreparáveis, podendo ter (e têm) conseqüências irreversíveis sobre a biologia dos "habitat" atingidos.

Os principais produtos químicos utilizados no refino da cocaína, tais como éter, acetona, acido sulfúrico, ácido muriático, hidróxido de sódio, derivados benzênicos e outros, hidrosolúveis ou hidrocarbonetos, promovem modificações químicas na água, deletérias aos ecossistemas aquáticos.

A Amazônia é a maior bacia fluvial do planeta, sendo evidente sua capacidade de transporte e carreamento de produtos químicos e sólidos. Apesar do grande volume de água, de sua capacidade de tamponamento daqueles resíduos e ácidos, deve-se observar que o ecossistema aquático não é homogêneo em toda sua extensão. A biodiversidade de várias nascentes à foz dos rios, apresentam espécies endêmicas únicas e localizadas.

Tomando-se por base que para a produção de 1 kg de cloridrato de cocaína são necessários cerca de 30 litros de derivados benzênicos, 20 litros de solventes orgânicos e 1 kg de substâncias oxidantes, tem-se que para a produção estimada de 2.000.000 kg de cloridrato de cocaína (90% de pureza), são necessários 60.000.000 de litros de derivados benzênicos, 40.000.000 de litros de solventes e 2.000.000 de quilos de oxidantes.

Estima-se que, anualmente, mais de 100.000. (cem mil) toneladas métricas de produtos químicos são empregados nas diversas fases do refino da cocaína, sempre em locais junto as nascentes dos rios e igarapés que dão origem a Bacia Amazônica, cujos dejetos fluem naturalmente para aqueles capilares hídricos, alterando o PH do solo, reduzindo a taxa de oxigênio, destruindo os fito e zooplancton, provocando alto grau de poluição e alterações significativas nas cadeias alimentares e ciclos biológicos, interferindo diretamente na fauna ictiológica e flora aquática.

Desta forma, várias espécies de vegetais, animais e microorganismos estão desaparecendo sem ao menos serem conhecidos seus efeitos para a humanidade e comprometendo, de forma irremediável, o maior celeiro da biodiversidade mundial.

Com isto, e partindo-se do mesmo princípio do cálculo acima, tem-se que os precursores químicos utilizados no processamento da cocaína, algo em torno de 100.000 toneladas métricas/ano, são desviados em torno de 270 toneladas/dia, o que permite concluir que os meios de transporte empregados para tal finalidade são os de grande capacidade de carga.

A comercialização do Cloridrato de Cocaína é, na atualidade, um dos maiores mercados financeiros do planeta, cuja potencialidade é traduzida pelo universo de "papelotes" produzidos por ano: cerca de 6.000.000.000, multiplicados pelo preço médio praticado em todo mundo: US$ 20,00 (vinte dólares) o "papelote", totalizando o montante de US$ 120.000.000.000,00 (cento e vinte bilhões de dólares)."
Quem produz toda essa quantidade de produtos químicos, capazes de sustentar a produção? O Brasil e os demais países da região não têm capacidade para tanto. Quem transporta essa imensidade de produtos químicos?

Considerando que a Colômbia é a maior produtora, a Bolívia vindo em seguida, e depois o Peru, pode-se afirmar que a via fluvial amazônica brasileira não é o caminho navegável utilizado, especialmente porque há várias barreiras da Polícia Federal (Belém-Manaus-base Anzol e Tabatinga), que seriam impossíveis de serem vencidas, se o transporte for de grande quantidade. Pequena quantidade não atende às necessidades, por isso é irrelevante.

Os maiores produtores dos químicos necessários à produção cocaleira são os Estados Unidos e a Suíça (Basiléia).

Não seria fácil controlar essa produção, impedindo, assim, que chegasse aos laboratórios?

Tal controle não interessa a ninguém (!), especialmente porque dos 120 bilhões de dólares, apenas alguns poucos milhares retornam para o "combate ao narcotráfico", criando, assim, o ciclo vicioso do monstro que mantém a si mesmo, a despeito de comer um pouco do próprio rabo, que sempre está a se recompor e forma cada vez maior.

O controle da produção dos produtos químicos pelo Estado, dirão alguns, vai de encontro à liberdade de indústria, corolário da liberdade "sagrada" individual. E com isso, sob pena de se ir de encontro a um dos princípios basilares do capitalismo, aceita-se tudo em seu nome, o qual prega: se o lucro supera o prejuízo, tudo deve ser aceito.

Hipocrisia tem limites: não cheirem, não lavem e nem estimulem a produção daquilo que condenam.

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Sunday, April 28, 2013

A Raposa - O Pequeno Príncipe




E foi então que apareceu a raposa:
– Bom dia – disse a raposa.
– Bom dia – respondeu educadamente o pequeno príncipe que, olhando a sua volta, nada viu.
– Eu estou aqui – disse a voz – debaixo da macieira…
– Quem és tu? – perguntou o principezinho. – Tu és bem bonita…
– Sou uma raposa – disse a raposa.
– Vem brincar comigo – propôs ele. – Estou tão triste…
– Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativou ainda.
– Ah! Desculpa – disse o principezinho.
Mas, após refletir, acrescentou:
– Que quer dizer “cativar”?
– Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?
– Procuro os homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer “cativar”?
– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer “cativar”?
– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. – Significa “criar laços”…
– Criar laços?
– Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo.
– Começo a compreender – disse o pequeno príncipe. – Existe uma flor… eu creio que ela me cativou…
– É possível – disse a raposa. – Vê-se tanta coisa na Terra…
– Oh! Não foi na Terra – disse o principezinho.
A raposa pareceu intrigada:
– Num outro planeta?
– Sim.
– Há caçadores nesse planeta?
– Não.
– Que bom! E galinhas?
– Também não.
– Nada é perfeito – suspirou a raposa.
Mas a raposa retomou o seu raciocínio.
– Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também. E isso me incomoda um pouco. Mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e observou por muito tempo o príncipe:
– Por favor… cativa-me! – disse ela.
– Eu até gostaria – disse o principezinho –, mas não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
– A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas, como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
– Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
– É preciso ser paciente – respondeu a raposa. – Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto…
No dia seguinte o principezinho voltou.
– Teria sido melhor se voltasses à mesma hora – disse a raposa. – Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas, se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração… É preciso que haja um ritual.
– Que é um “ritual”? – perguntou o principezinho.
– É uma coisa muito esquecida também – disse a raposa. – É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, adotam um ritual. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira é então o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem em qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu nunca teria férias!
Assim, o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
– Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua – disse o principezinho. – Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
– Quis – disse a raposa.
– Mas tu vais chorar! – disse ele.
– Vou – disse a raposa.
– Então, não terás ganhado nada!
– Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo.
Depois acrescentou:
– Vai rever as rosas. Assim compreenderás que a tua é única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
O pequeno príncipe foi rever as rosas:
– Vós não sois absolutamente iguais à minha rosa, vós não sois nada ainda. Ninguém ainda vos cativou, nem cativastes a ninguém. Sois como era a minha raposa. Era uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo.
E as rosas ficaram desapontadas:
– Sois belas, mas vazias – continuou ele. – Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem pus sob a redoma. Foi ela quem abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as larvas (exceto duas ou três, por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha rosa.
E voltou, então, à raposa:
– Adeus… – disse ele…
– Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
– O essencial é invisível aos olhos – repetiu o principezinho, para não se esquecer.
– Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
– Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa… – repetiu ele, para não se esquecer.
– Os homens esqueceram essa verdade – disse ainda a raposa. – Mas tu não a deves esquecer. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela tua rosa…
– Eu sou responsável pela minha rosa… – repetiu o principezinho, para não se esquecer.



*O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry

Wednesday, January 2, 2013

Uma visão diferente...


Recebi esse texto no meu colega Roberto Telezinsky e achei que devia compartilhar.

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Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova. Tratava-se de avaliar uma questão de Física, que recebera nota 'zero'. O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma 'conspiração do sistema' contra ele. Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido.

Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: 'Mostrar como pode-se determinar a altura de um edifício bem alto com o auxilio de um barômetro.' A resposta do estudante foi a seguinte:

'Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada e em seguida levante, medindo o comprimento da corda; este comprimento será igual à altura do edifício.'

Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado. Por instantes vacilei quanto ao veredito. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma aprovação em um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso. Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder a questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar aquilo que eu imaginei lhe seria um bom desafio. Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder a questão, isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria mostrar, necessariamente, algum conhecimento de Física.

Passados cinco minutos ele não havia escrito nada, apenas olhava pensativamente para o forro da sala. Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder.Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.

No momento seguinte ele escreveu esta resposta:

'Vá ao alto do edifico, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo t de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a fórmula
h = (1/2)gt^2
calcule a altura do edifício.'


Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente a nota máxima à prova. Concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo.

Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram essas respostas.

"Ah!, sim," - disse ele - "há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro."

Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.

"Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo. bem como a do edifício. Depois, usando uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício."

"Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas ter-se a altura do edifício em unidades barométricas."

"Um método mais complexo seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se dois g's, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença."

"Finalmente", concluiu, "se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer; diz-se:

'Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente.'"

A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta 'esperada' para o problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.

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Podem me tirar tudo, menos os meus pensamentos...

Tuesday, November 17, 2009

Matéria do Fantástico!

Paraquedista volta a voar depois de ficar paraplégico

Aos 38 anos, Chris tem um olhar assustado e um cachorro arisco. Não está feliz com o destino, mas já parou de se lamentar.

Chris Colwell dominava os céus como um pássaro. Até mais. Fazia acrobacias que muitos pássaros não fazem.
Rasgava a atmosfera como se caminhasse por uma estrada invisível. Com uma alegria visível, nos olhos e no sorriso. Ele chegou tão alto no esporte que virou professor.
No dia 24 de abril de 2003, a câmera estava no capacete de Chris. O paraquedista que aparece assustado na porta do avião é um iniciante.
Um iniciante pesado, que desce muito rápido e quase sem controle.
Diante da perigosa descida do companheiro, Chris assume a posição mais rápida que existe no paraquedismo.
De cabeça apontada pro solo, desce a mais de duzentos quilômetros por hora pra resgatar o aluno que, de repente, dá uma guinada.
Os dois se chocam. O paraquedista profissional bate com a cabeça no peito do aluno.
As pernas param de responder aos comandos do cérebro. Chris perde também o controle dos dedos e movimenta os braços, desesperadamente numa viagem sem controle em direção à terra.
Ele não consegue abrir o paraquedas principal.
E quando a morte parece algo inevitável, o páraquedas de emergência se abre automaticamente.
O alívo dura poucos segundos. Chris precisaria muito das pernas pra fazer um pouso suave. Com sorte, pousaria na grama.
Mas, nada feito. Ele rola desgovernado pelo asfalto.
Com a voz embargada, seis anos depois, Chris Collwell se culpa.
“A gente deveria fazer seis vôos aquele dia. O plano era ensinar a ele algumas manobras, mas de repente os planos mudaram. Ele começou a voar muito rápido. Eu tentei alcançá-lo, o que foi provavelmente meu erro, porque ele de alguma forma acabou ficando bem embaixo de mim. Num certo ponto, eu comecei a ver um monte de imagens do passado na minha cabeça, exatamente como acontece com pessoas que pensam que vão morrer”, explica Chris.
O pouso no asfalto foi o último da carreira de quem nasceu aventureiro. Foi obrigado a começar uma nova vida com as pernas e os dedos paralisados na cadeira de rodas.
Aos 38, Chris tem um olhar assustado e um cachorro arisco. Não está feliz com o destino, mas já parou de se lamentar.
Dentro de casa, mandou construir um estúdio pra viver uma nova paixão.
O instrumento é simples, mas foi o que deu pra improvisar com plástico e ponta de lápis, para tocar o teclado.
A letra do hip-hop não tem improviso. “É um dia completamente novo; cinco anos se passaram desde que eu bati no asfalto. Eu ainda vôo, todos os dias, vou chegar aos céus? Não sei. Mas até lá eu vou tentar”.
E como diz a letra da música, Chris quer voar novamente. Os amigos chegam no fim da tarde, dispostos a ajudá-lo na missão importante, que não é impossível.
Mas primeiro é preciso preparar o carro. A bagagem. E o aventureiro.
Depois de seis anos, depois de muito tempo sonhando com este momento, Chris está finalmente pronto pra sua primeira aventura desde o acidente. Ele vai acompanhado de três brasileiros: a Juliana, que é paraquedista; o João, também paraquedista; e o Kalei, que é médico e paraquedista. Mas, antes do voo, eles têm 800 quilômetros de estrada pela frente.
“Espero que não precise de nenhum suporte, mas se precisar a gente ta aí pra dar qualquer apoio”, explica Kallei Ferreira, médico e paraquedista.
Juliana e Chris se conheceram há muitos anos durante um vôo.
“Vou voar junto com o Chris. A última vez que a gente voou junto faz bastante tempo já, então eu também to esperando por este momento há muito tempo”, Juliana, instrutora de paraquedismo.
Como o próprio Chris tem dito, ela e João serão os anjos da guarda durante a simulação de um salto, num túnel de vento.
“Acho que só a gente estar aqui já é especial pra todos nos e vai ser um grande desafio, porque nunca ninguém nas condições do Chris voou antes num simulador”, afirma João Tambor, instrutor de paraquedismo.
Chris está pronto. As portas se fecham e a van sai sem pressa.
Saindo de Deland, na Flórida, serão mais de 800 quilômetros até Fayeteville, na Carolina do Norte. Na jornada que atravessa a madrugada, os brasileiros se alternam na direção. E na manhã do dia seguinte, a equipe finalmente chega ao local da aventura.
Chris mostra a mão pra dizer que não está tremendo, nem um pouco nervoso.
Todos se reúnem e Chris explica exatamente o que quer: “Eu fico o dia inteiro assim, sentado… Então eu quero girar… Voar pra cima e pra baixo… Quero ficar solto, sem ninguém me segurando”
Bom, agora capacete, o Chris tá com tudo pronto pra voar pela primeira vez depois de seis anos. É uma tentativa, a gente ainda não sabe o que vai acontecer, mas as expectativas são as melhores possíveis.
Tudo pronto uma operação complicada. Eles têm que trazer o Chris para dentro do túnel que foi desligado neste momento.

O túnel de vento foi ligado.

Os primeiros movimentos. Ele sente as mãos e lentamente vai saindo do chão. Os instrutores também começam lentamente a voar.

Nova tentativa. Ele ainda sendo segurado, protegido pra sentir como é o vento depois de tanto tempo sem praticar.

Obviamente, sem o movimento das pernas. E sem sentir o que acontece nas mãos.
Ele tenta sinalizar p os instrutores qual seria a posição mais confortável para voar sozinho que e o grande objetivo dele aqui.

A comunicação é difícil. O instrutor tenta interpretar e ele pede para ficar de frente, o que é mais difícil.

Ele faz agora pela primeira vez o chamado belly fly, que e o voo de barriga para baixo. O Chris ta voando neste momento sozinho!

O sorriso no rosto de Chris começa a aparecer. Um certo alivio. Uma sensação de conquista - afinal depois de seis anos na cadeira de rodas o Chris finalmente tem a sensação de voar - algo que ele praticamente fez a vida inteira e fez muito bem, como poucos.

Agora sim vento mais forte - mais de 200 quilômetros por hora. Essas manobras são meio arriscadas para situação que a gente está enfrentando. Incrível!
A Juliana chora, enxuga as lágrimas, sorri, é uma emoção enorme porque ela passou os últimos dois anos planejando este momento. Eles voavam juntos antes do acidente do Chris.

Agora o Chris experimenta um voo de cabeça pra baixo, exatamente o que ele fazia no dia do acidente, no momento do acidente. Agora, com toda a segurança, auxiliado por quatro instrutores, ele voa de cabeça pra baixo, como se estivesse no céu.
Quando a aventura termina, a equipe comemora.
A vitória é de todos. Chris ainda não acredita que depois de seis anos numa cadeira de rodas, foi capaz de voar.

Matéria original: Fantástico: Clique aqui